Independência ou Morte - Pedro Américo
Independência ou Morte é uma pintura do artista brasileiro Pedro Américo. É considerada a representação mais consagrada e difundida do momento da independência do Brasil, sendo o gesto oficial da fundação do Brasil.[ Seu nome vem da exclamação de D. Pedro I ao proclamar a independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822: "É tempo! Independência ou Morte! Estamos separados de Portugal!".
Pedro Américo era paraibano, nascido em 1843 na atual cidade de Areia, na época uma vila chamada Brejo d'Areia. Desde a infância, apresentava vocação para a pintura, tendo aos dez anos participado como desenhista da flora e da fauna em uma expedição científica pelo nordeste do Brasil, feita pelo naturalista francês Louis Jacques Brunet. Com cerca de treze anos, ingressou na Academia Imperial de Belas Artes, na cidade do Rio de Janeiro. Seu desempenho na Academia o tornou conhecido até pelo imperador D. Pedro II, que patrocinou uma viagem a Paris e os estudos do pintor na Escola Nacional Superior de Belas Artes, onde o artista aperfeiçoou seu estilo, principalmente em pintura histórica. Sua obra mais famosa, Independência ou Morte, foi apresentada pela primeira vez na Academia de Belas Artes de Florença em 8 de abril de 1888. Depois de vir para o Brasil, permanecendo por alguns anos, retornou a Florença, onde morreu em 1905.
O artista coloca em evidência a figura de D. Pedro I, no alto da colina verde, quase centralizado, um pouco para a esquerda, tendo à sua retaguarda dez homens – sete em primeiro plano e três em segundo plano – que vestem trajes civis e levantam seus chapéus] Montado em um cavalo marrom, o imperador veste um traje de gala característico da nobreza, empunha sua espada e proclama a independência com o grito que, figurativamente, "reverbera por todo o império".[ Seu olhar está direcionado para os soldados da Guarda Real, à direita. Eles acompanham D. Pedro, e usam fardas, capacetes de dragões e botas, estão sobre cavalos e empunham suas espadas.
À esquerda, na base do quadro, há a figura de um carreiro em atitude de espanto e incompreensão do evento que está presenciando. Aqui, ele é um mero espectador. Guiando um carro de bois, é mostrado como uma figura tosca, com pés descalços, cujo corpo robusto descoberto contrasta com a elegância de D. Pedro. Ele está ao largo da ação, contornando a colina às margens do riacho do Ipiranga no atual bairro paulistano do Ipiranga, sem perceber a magnitude do evento que está presenciando.
Há árvores e vegetação rasteira, além de uma única habitação do lado direito do quadro. Também são representadas algumas montanhas. O céu é azul e as nuvens, brancas. No cenário, o riacho do Ipiranga aparece apenas como um curto facho, na parte inferior do quadro Posicionamento de esboços
A tela de Pedro Américo tem uma organização geométrica. Há dois semicírculos que se encontram em um ponto no qual o eixo central tange o inferior da tela. O primeiro evolui do centro da tela para a direita, englobando os soldados. O segundo replica o mesmo movimento, porém para a esquerda. O percurso descendente da estrada delineia o semicírculo à esquerda. Em sua diagonal, está um caipira com seu carro de boi. Para representar o riacho do Ipiranga, Américo decide forçar a perspectiva pintando um simulacro de corrente aos pés dos soldados no primeiro plano. As montanhas transmitem a ideia de vastidão e perspectiva. O artista valorizou o local do evento e delimitou de maneira espacial a proclamação, que ocorreu em São Paulo, tendo sucesso em unir lugar, acontecimento e personagem.
Colocar D. Pedro em segundo plano foi uma maneira de Américo inserir uma compreensão hierárquica. A pintura legitima a ação heroica do imperador e seu direito em ser líder do Brasil independente.[7] As estratégias usadas pelo pintor para evidenciar o imperador foram as de representá-lo num momento solene, montado em um cavalo e criar um núcleo de destaque, situando D Pedro num ponto mais elevado da topografia.
Colocar D. Pedro em segundo plano foi uma maneira de Américo inserir uma compreensão hierárquica. A pintura legitima a ação heroica do imperador e seu direito em ser líder do Brasil independente.[7] As estratégias usadas pelo pintor para evidenciar o imperador foram as de representá-lo num momento solene, montado em um cavalo e criar um núcleo de destaque, situando D Pedro num ponto mais elevado da topografia.
Pedro Américo direciona o olhar do observador para o herói, através da interação entre D. Pedro e os outros personagens do quadro: o grupo à sua volta, os soldados e os caipiras. Ele está no centro e levemente deslocado para a esquerda. Há um contraste entre sua rigidez e o movimento das pessoas que o rodeiam. Esta é outra técnica usada pelo artista para que o olhar do espectador se dirija para o imperador, colocando-o em destaque. A figura dele torna-se essencial para a composição da obra, apesar de sua atitude ser mais artificial e sublime. Além disso, para enfatizar o herói, o tamanho de sua imagem é menor do que a dos caipiras e dos soldados, que estão em primeiro plano. Este desnível reforça a superioridade do imperador, já que sua figura se sobressai.
Pouco abaixo do imperador, há uma barreira estética criada por um cavaleiro que está de costas para o observador. De sua farda ele arranca um laço vermelho e azul, que representa a união entre a colônia e a metrópole. O eixo entre este soldado e D. Pedro forma um núcleo discursivo, já que o guarda está posicionado no centro da tela, e tem o papel de articular as duas metades do quadro. O movimento brusco feito por seu cavalo acentua ainda mais o papel de mediador do personagem.
Há um percurso narrativo na pintura de Pedro Américo: ele se inicia no caipira à esquerda, cujo olhar está na direção de D. Pedro. O espectador segue este movimento até o imperador e sua comitiva. A partir deste ponto, é estabelecido um pólo narrativo, consequente da posição do guarda que está no centro. A narração continua no semicírculo que é formado pelos soldados à direita. Américo integra todos os personagens da cena através da formação elíptica dos soldados, usando a perspectiva como ferramenta de unidade. O desfecho dramático se dá pela compreensão de que a proclamação foi um feito de um só homem. A composição como um todo tem uma estrutura piramidal de poder, em que a soberania nacional é associada à uma elite política e intelectual, sob comando do imperador. Neste contexto, o caipira não tem papel a desempenhar, colocando seu futuro nas mãos de D. Pedro, representado na obra como mero espectador e admirador da cena
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Independ%C3%AAncia_ou_Morte_(Pedro_Am%C3%A9rico)#cite_note-FOOTNOTELima1997-2